segunda-feira, 9 de julho de 2007

CD Linha D’água



Estou atônita por ter escutado um CD tão profundo, com registros que afloram muita sensibilidade.

Sinto uma maturidade de cantora, e ainda mais, por eu já ter conhecido o seu primeiro trabalho. Vi o quanto a vida a ensinou a cantar, a voar e a andar com os pés no chão!!! Ela foi ao encontro de sua identidade mais profunda.

Afinadíssima e com um timbre que caminha entre o grave aveludado e o agudo encorpado, potente. Vê-se que ela tem uma preocupação melódica e harmônica na escolha do repertório e ela soube fazer com muita propriedade. Ela é uma grande cantora e de grande sensibilidade.

Luiz Felipe Gama é um compositor e arranjador que pesquisa e inventa o seu próprio jeito de compor, é muito autêntico. É inovador e ao mesmo tempo “reciclador”, coloca as suas influências musicais de forma sutil e que dessa forma nos permite entender de onde tudo veio. Vê-se que ele faz uma análise e estruturação da música como canção. Ele elabora suas canções com muita criação, é uma obra artística.

Existe um conceito no disco que é o de passar de uma música pra outra sem parar. Adoro isso, dá a noção de continuidade, me prende em casa, não me deixa sair da sala.

É um disco de cantora muito bem produzido e arranjado. Além de ter uma ótima banda a acompanhando, como Natan Marques viola caipira, violão, Sylvinho Mazzuca no baixo, Paulinho Baptista trompete e Sérgio Reze bateria e percussão, e o próprio Luiz Felipe no piano. È muito boa essa formação.

A obra contou com participações especialíssimas, Guinga cantando na música “Depois do Sonho”, Renato Teixeira em “Amora” e Carlos Buono tocando bandoneón em “Juliana”. Vale à pena conferir. Pra mim esse é o melhor disco de cantora, desse tempos.

A “Linha D’água” (Rodrigo Zaidan Luciano Garcez) é a música de abertura e ela faz esse propósito de aguçar em nós a vontade de conhecer o disco por inteiro. Isso se transmite quando na música o Contra-Baixo toma forma. Fomenta curiosidade de conhecer as músicas que passam pelo crivo de sua interpretação.

A música quatro “A cidade e a Serra” (Luiz Felipe Gama e Luciano Garcez) dá uma respirada nas tensões e traz a alegria e conquista o público novamente.

Depois de ouvir uma música alegre ela canta “Clara” (Luiz Felipe Gama) é muito introspectiva. Ela brinca novamente com a dinâmica do arranjo e da voz entre grave e agudo, volume alto e baixo, ela faz isso com muita versatilidade.

Já a música “Amora” (Renato Teixeira) acalma e tranqüiliza a tensão da canção anterior. Por ser conhecida chama atenção do ouvinte para o meio do disco e atiça a curiosidade para saber como ela interpretaria aquela música que já foi cantada por tantos.

O mesmo se dá em "Modinha e Retrato em Branco e Preto" (Vinícius de Moraes/ Tom Jobim e Chico Buarque) por serem músicas conhecidas, descansam um pouco o ouvinte, e o leva para outra esfera da percepção referente ao das lembranças e saudades. Nessa música Ana Luiza chegou ao auge de sua interpretação com uma esplendida naturalidade.

Nunca pensei que fosse ouvir Encrenca novamente, o Natan me ensinou a cantá-la para um show, e nunca me lembrava de como era, só partes da melodia e algumas palavras. Fiquei surpresa e grata, eu me lembro dele me contar que Elis iria gravá-la, mas que morreu pouco depois e que até então nunca ninguém tivesse gravado. Ah se eu soubesse que seria cantora naqueles tempos!!! Hehehe. Ana Luiza a interpretou com muita propriedade.

Que delícia do menininho cantando o “Viola Violar” (Milton Nascimento e Márcio Brant). A música ficou ótima, dá vontade de ficar cantando toda hora.

Pra mim Juliana (Luis Felipe Gama) é a música mais bonita do disco. Música letra e arranjos.

Tem até poema de Pablo Neruda musicado pelo Luis, chamado Soneto LXVI. Na voz de Ana Luiza a música sai das entranhas.

É interessante a idéia das músicas alegres intercalar as mais tensas, dá equilíbrio para as emoções.

E no quase final o frevo "Ninho de Vespa" de Dori Caymmi e P C Pinheiro foi fundamental pra mostrar o naipe da banda e tudo mais. Ela cantou muito bem!!

A última música "Bacia das Almas" remete a uma lembrança atemporal. Lembrei-me muito do livro de poesias “A Viagem” de Cecília Meireles, tem um sentido efêmero, que conta coisas difíceis com muita sutileza. Tal qual Cecília, Luiz Felipe Gama e Mauro Aguiar souberam transmitir o momento da passagem muito bem.

Achei o disco um pouco extenso, talvez eu não fizesse tão grande. Entretanto, eles souberam variar as músicas conhecidas e com as desconhecidas e isso deixou disco bem equilibrado, na medida.

7 comentários:

Mariceli disse...

Blz Leopoldina,

fiquei feliz com a iniciativa.

sucesso para o blog e que boas palavrinhas nunca te faltem.

bj do parceiro Dudu Nicácio.

Unknown disse...

Quero ouvir esse disco. Onde encontro?

Leopoldina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leopoldina disse...

Não sei onde vende pois este eu ganhei, mas sei que o disco é vinculado 'a Guanabara Records www.guanabararecords.com e é distribuído pela Tratore www.tratore.com.br.

Anônimo disse...

O disco é distribuído pela Tratore (www.tratore.com.br), e se pode encontrar em diversas lojas do país (no site há a lista delas) e no www.submarino.com. Concordo com você, Leopoldina, que bom que um disco tão importante como esse foi ouvido e comentado com tanto apuro. Tenho a dizer somente que, mais do que um disco "de cantora", "Linha d'água" é um disco "de duo". Sei que Luis Felipe Gama e Ana Luiza são parceiros há mais de 12 anos e contróem juntos o seu trabalho artístico, cuidadosos que são na escolha rigorosa do repertório, passando pela construção dos arranjos desse pianista especial, culminando com o modo de gravar os discos. Esse, por exemplo, foi gravado em tempo real, todo mundo ao mesmo tempo no mesmo espaço. Errou alguém, começa de novo, até ficar bom. Imagina o calor das interpretações de todos os envolvidos? Concordo com você, acho que Luis Felipe Gama assina a direção musical com a maestria de um ourives. E Ana Luiza é uma cantora como poucas. Trabalho de rara beleza, que honra a tradição e aponta pra modernidade. Fundamental.

Leopoldina disse...

É isso aí Mácia, fico feliz que apesar de tanta massificação de cultura, podemos ver um trabalho tão bem feito e que aos poucos vai chegando até nós. Bom poder saber que no Brasil existam pessoas tão competentes.

À Sombra do Café Nice, por Luciano Garcez disse...

Olá, sou o Luciano Garcez, o compositor de Linha D´água, de A Cidade e a Serra e do prefácio do CD da Ana. Gostaria de estabelecer elos aqui com músicos, pois tenho um blog sobre: sombradocafenice.blogspot.com. Bjos para todos.