quarta-feira, 11 de julho de 2007

Coletividade

Foi com muita vontade e entusiasmo que participei da semana de discussões sobre o rumo da música, realizada aqui em BH. Foi de grande valia saber os meios pelos quais músicos independentes, produtores e comunicadores criaram mecanismos particulares para sanar as carências nas etapas de produção e distribuição.

Nesta semana foram apresentados como exemplos o projeto Estereocubo (MT), o sistema de Cooperativas (SP), o surgimento da Abrafim (Associação Brasileira de Festivais Independente de Música) e outras frentes criadas no Brasil, baseadas em experiências e dificuldades peculiares a cada região.

Dessa forma vê-se que no Brasil está se criando uma rede de pessoas, associações e cooperativas que fortalecem o processo de produção e contradizem a antiga visão de que o grande centro é o melhor lugar de se produzir. Cada vez mais está ultrapassada essa barata filosofia, pois como já se sabe, as “majores”(grandes gravadoras) estão em decadência.

Exemplos como o do Acre e do Amapá que mesmo com tão pouca tecnologia, e tão afastados dos grandes centros (eixo Rio-São Paulo) estruturaram-se para criar uma nova forma de trabalhar e produzir a arte em si. E pasmem-se, hoje o secretário da cultura do estado do Acre emergiu desses movimentos cooperativistas. Hoje lá, a organização dos planos de comunicação e divulgação da cultura é exemplo de pioneirismo para todos nós. E tudo surgiu por causa de um telefonema para o Estereocubo no Mato Grosso, para saber como o CUBO tinha conseguido entrar para os festivais da Abrafin. A organização do Acre hoje é considerada ponta de linha na organização e propulsão da música e seus eventos.

E como foi dito pelo próprio Pablo Capilé (espaço Cubo) não existe mais aquela visão de que o músico “o iluminado” será descoberto pelo seu grande talento. Se ele não se associar para se fazer conhecido, não adiantará muita coisa. A probabilidade de ele ter algum sucesso em seu trabalho será infinitamente menor. Não adianta mais ficar olhando para o seu próprio umbigo, e tentar vencer as dificuldades sozinhos. O momento é de se associar e trabalhar juntos em prol de um meio artístico mais democrático e aberto às diferentes culturas desse país.

A linha de estratégia para o sucesso em nosso empreendimento é a de cooperação, é a de meios alternativos de se pensar e agir. O Brasil é muito grande e só dessa forma é que conseguiremos fazer mais conexões com a multiplicidade de culturas escondidas pelas vielas do esquecimento e da negligência.

Já me basta ser engolida por essa grande mídia comprada. Todos nós já sabemos que as grandes gravadoras pagam jabás. Elas não estão preocupadas em conservar a cultura de algum local, muito menos fomentar um movimento artístico diverso para se perpetuar a criação.

Ainda bem que existem TVs públicas e Rádios -como sempre alternativas- que têm consciência desse grande mal, fiquei muito feliz de ver representantes da TV Minas e da Rádio Inconfidência, Israel do Vale e Kiko Ferreira, indo a todos os debates e se colocando abertos para a produção independente de música de Minas e do Brasil. Pessoal eles estão a nossa disposição.

E uma das coisas que eles disseram - eu achei até grave para o nosso lado- foi que agora que temos uma representante que é a SIM (Sociedade Independente de Música), nós deixamos vagar as intenções e os sonhos. Eles pensaram que iríamos participar e atuar muito mais na cena de BH e Minas, criando mais eventos e meios de nos fortalecer, propondo novas condutas nos meios de comunicação e nas leis. E o que se vê é a que a SIM, não soube se articular de uma maneira que nos motivasse participar dela com mais afinco e que fomos deixando-a de lado. Não será a hora de avaliarmos a nossa posição e ver o que poderemos fazer para melhorar o sistema? Se a deixarmos como está ficará fadada ao esquecimento. Como nos fazer mais ativos na nossa cena? Se a SIM já foi criada, porque não nos interar dos assuntos, propor novas idéias e ocupar o nosso espaço nessa associação? Acho que devemos ocupar espaços em vez de torná-los improdutivos. Se ela é um órgão que nos representa, porque não nos apropriar?

Acho também que temos que criar outros novos órgãos de cooperativas que gerem a produção, distribuição e comunicação de nossos trabalhos, e isto algumas pessoas que participaram daqueles debates estão se reunindo inclusive eu, para discutir e viabilizar um melhor jeito de implantar esse sistema aqui em Minas Gerais, chamado Coletivo PDM. Estamos implantando frentes de comunicação e depois veremos como será criado.

Vale a pena saber que o pessoal do Cubo criou em Cuiabá, estúdio de gravação, estúdio de ensaio, grupo de assessoria de imprensa, festivais e mostras, tudo por meio de cooperativa. E que interessante, eles criaram um Sistema de Card , cada card vale um real e cinqüenta centavos e tudo é feito por sistemas de trocas. Até as lojas da cidade aceitam o Cubo Card como moeda, pois esse câmbio gerou um crescimento econômico na cidade aquecendo o mercado local. Além de favorecer a mão de obra, dar empregos e tudo mais que um bom empreendimento pode gerar. Acho que podemos fazer aqui em BH o que vocês acham?

A cooperativa criada em São Paulo dá assistência a várias modalidades de assuntos e dentre eles, um bem interessante é que existe um auxílio às musicistas e cantoras grávidas durante quatro meses após o nascimento do bebê. Não é um barato?

O pessoal do Hip Hop também se associou em Cuibá o CUFA e hoje é um dos sistemas mais bem organizados que representam a classe musical e que se espalhou por vários locais Hip Hop do Brasil.

Um dos melhores exemplos de que isso pode dar certo, foi quando criamos o movimento “RECICLO GERAL- mostra de composições inéditas” que aqueceu as noites de junho e julho em BH no ano de 2002. Muitos músicos, compositores, cantores e artistas que aí tocaram hoje estão gravando seus discos e trilhando a sua história. Aquele movimento foi criado com a ajuda de todos com sistemas de permutas, ninguém ganhou cachê, todos fizeram por um pensamento maior que era o da importância da nova música na cidade. Todos os eventos ficavam lotados. Todos os músicos iam aos shows, teve dia em que a casa não comportava a quantidade de pessoas.

Mas foi só o começo, hoje como no Reciclo, temos que nos unir novamente pra perpetuar o trabalho de muitos que dali surgiu e muitos que hoje estão surgindo. Temos que fazer o moinho rodar.

Na visão mostrada naqueles debates de semana passada, fiquei convicta de que sozinhos não vamos a lugar algum, no máximo até ali na Esquina.

Muitas idéias, debates e atitudes são necessários para a melhoria de nossa classe musical. Tenho vários pensamentos borbulhando na cabeça e gostaria de conversar, trocar, aprender, ver diferente, pra fazermos juntos. Alguém se disponibiliza?

terça-feira, 10 de julho de 2007

Lá em casa


noite agitada, infancia a tona, campos gerais, deus como sinto falta, falta de jogar, de subir nas arvores, de chupar manga, de por ropa rasgada, da leo, do marcelo, que agora tem a morena, que eh do tamanho que o rafa era naquela epoca quando me queria trocar pelo seu caminhaozinho preferido........ acho que foi de escutar mto cabaret minero. que lindo o canto das virgens!!!! que paz! o vo! acho que eu nao vo la fecha o portao nao!!! eu tenho medo..... con a tia elisa, mto pao de queijo, broa, biscoito de polvilho, por favor, quero frango ao molho pardo!!!!! quero a liberdade de correr sem medo de cair, de sujar, de querer mais e mais e mais! lindos meses sem encontrar meus pais!!! porque eu ficava com saudades....... ai como eu amo!!!! amo tanto, amo tudo isso que me fez ser quem sou, e que me fez inquieta, e que me fez curiosa, e que me fez crianca, e que me fez nao querer simplesmente o que era provavel deu querer!!!! por momentos penso que seria mas facil so querer o obvio!! mas o obvio eh chato! e sem ele eu vou mto mais longe!!!!!!!!!!! que eh o longe!!! acho q naquela epoca campos gerais era o mais longe que conhecia e hj o mais longe eh tao mais longe que eu nao consigo nem imaginar onde eh! mas hj ta tudo mais perto, e sei que um dia eu chego nesse longe que so meu coracao sabe onde esta!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! e o loco eh saber que esse longe pode ser nada mais que duas quadras...... viva o sol, viva o calor, viva brasil, viva praia, viva o espaco, viva as alturas, viva as oportunidades, viva o esforço, viva mto al esforço, que eh ele que te leva longeeeeeeeee......................



Lucinha

segunda-feira, 9 de julho de 2007

CD Linha D’água



Estou atônita por ter escutado um CD tão profundo, com registros que afloram muita sensibilidade.

Sinto uma maturidade de cantora, e ainda mais, por eu já ter conhecido o seu primeiro trabalho. Vi o quanto a vida a ensinou a cantar, a voar e a andar com os pés no chão!!! Ela foi ao encontro de sua identidade mais profunda.

Afinadíssima e com um timbre que caminha entre o grave aveludado e o agudo encorpado, potente. Vê-se que ela tem uma preocupação melódica e harmônica na escolha do repertório e ela soube fazer com muita propriedade. Ela é uma grande cantora e de grande sensibilidade.

Luiz Felipe Gama é um compositor e arranjador que pesquisa e inventa o seu próprio jeito de compor, é muito autêntico. É inovador e ao mesmo tempo “reciclador”, coloca as suas influências musicais de forma sutil e que dessa forma nos permite entender de onde tudo veio. Vê-se que ele faz uma análise e estruturação da música como canção. Ele elabora suas canções com muita criação, é uma obra artística.

Existe um conceito no disco que é o de passar de uma música pra outra sem parar. Adoro isso, dá a noção de continuidade, me prende em casa, não me deixa sair da sala.

É um disco de cantora muito bem produzido e arranjado. Além de ter uma ótima banda a acompanhando, como Natan Marques viola caipira, violão, Sylvinho Mazzuca no baixo, Paulinho Baptista trompete e Sérgio Reze bateria e percussão, e o próprio Luiz Felipe no piano. È muito boa essa formação.

A obra contou com participações especialíssimas, Guinga cantando na música “Depois do Sonho”, Renato Teixeira em “Amora” e Carlos Buono tocando bandoneón em “Juliana”. Vale à pena conferir. Pra mim esse é o melhor disco de cantora, desse tempos.

A “Linha D’água” (Rodrigo Zaidan Luciano Garcez) é a música de abertura e ela faz esse propósito de aguçar em nós a vontade de conhecer o disco por inteiro. Isso se transmite quando na música o Contra-Baixo toma forma. Fomenta curiosidade de conhecer as músicas que passam pelo crivo de sua interpretação.

A música quatro “A cidade e a Serra” (Luiz Felipe Gama e Luciano Garcez) dá uma respirada nas tensões e traz a alegria e conquista o público novamente.

Depois de ouvir uma música alegre ela canta “Clara” (Luiz Felipe Gama) é muito introspectiva. Ela brinca novamente com a dinâmica do arranjo e da voz entre grave e agudo, volume alto e baixo, ela faz isso com muita versatilidade.

Já a música “Amora” (Renato Teixeira) acalma e tranqüiliza a tensão da canção anterior. Por ser conhecida chama atenção do ouvinte para o meio do disco e atiça a curiosidade para saber como ela interpretaria aquela música que já foi cantada por tantos.

O mesmo se dá em "Modinha e Retrato em Branco e Preto" (Vinícius de Moraes/ Tom Jobim e Chico Buarque) por serem músicas conhecidas, descansam um pouco o ouvinte, e o leva para outra esfera da percepção referente ao das lembranças e saudades. Nessa música Ana Luiza chegou ao auge de sua interpretação com uma esplendida naturalidade.

Nunca pensei que fosse ouvir Encrenca novamente, o Natan me ensinou a cantá-la para um show, e nunca me lembrava de como era, só partes da melodia e algumas palavras. Fiquei surpresa e grata, eu me lembro dele me contar que Elis iria gravá-la, mas que morreu pouco depois e que até então nunca ninguém tivesse gravado. Ah se eu soubesse que seria cantora naqueles tempos!!! Hehehe. Ana Luiza a interpretou com muita propriedade.

Que delícia do menininho cantando o “Viola Violar” (Milton Nascimento e Márcio Brant). A música ficou ótima, dá vontade de ficar cantando toda hora.

Pra mim Juliana (Luis Felipe Gama) é a música mais bonita do disco. Música letra e arranjos.

Tem até poema de Pablo Neruda musicado pelo Luis, chamado Soneto LXVI. Na voz de Ana Luiza a música sai das entranhas.

É interessante a idéia das músicas alegres intercalar as mais tensas, dá equilíbrio para as emoções.

E no quase final o frevo "Ninho de Vespa" de Dori Caymmi e P C Pinheiro foi fundamental pra mostrar o naipe da banda e tudo mais. Ela cantou muito bem!!

A última música "Bacia das Almas" remete a uma lembrança atemporal. Lembrei-me muito do livro de poesias “A Viagem” de Cecília Meireles, tem um sentido efêmero, que conta coisas difíceis com muita sutileza. Tal qual Cecília, Luiz Felipe Gama e Mauro Aguiar souberam transmitir o momento da passagem muito bem.

Achei o disco um pouco extenso, talvez eu não fizesse tão grande. Entretanto, eles souberam variar as músicas conhecidas e com as desconhecidas e isso deixou disco bem equilibrado, na medida.